Documentos recentemente revelados e fontes ligadas ao governo paraguaio indicam que o Brasil teria espionado autoridades paraguaias durante momentos cruciais das negociações sobre a hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo e símbolo da parceria energética entre os dois países.
A revelação, que ainda não foi oficialmente comentada pelo governo brasileiro, reacende tensões históricas entre os países vizinhos e levanta questionamentos sobre os limites éticos da diplomacia e da segurança nacional.
Segundo informações publicadas na imprensa paraguaia e confirmadas por investigações internas, agentes da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) teriam monitorado comunicações e reuniões de diplomatas paraguaios em 2019, no auge das renegociações do Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata da comercialização da energia gerada pela usina.
Na época, o governo paraguaio enfrentava forte pressão interna após ser revelado um acordo considerado desfavorável ao país, que supostamente beneficiaria empresas brasileiras na compra de energia excedente. A crise quase levou ao impeachment do então presidente Mario Abdo Benítez.
Fontes ligadas à chancelaria paraguaia afirmam que o Brasil obteve informações privilegiadas sobre as estratégias de negociação do Paraguai, o que teria influenciado diretamente os rumos do acordo.
O governo brasileiro, até o momento, não confirmou nem negou a existência da operação de inteligência. Questionada pela reportagem, a ABIN respondeu que "não comenta ações de caráter sigiloso" e reiterou seu compromisso com a legalidade e o interesse nacional.
Já o Itamaraty reforçou que "as relações com o Paraguai são pautadas pelo respeito mútuo e pela cooperação estratégica", evitando entrar no mérito das denúncias.
Em Assunção, o escândalo gerou indignação entre parlamentares e membros da sociedade civil. O senador paraguaio Hugo Richer declarou que "a suposta espionagem representa uma violação grave da soberania nacional e um ataque à confiança entre países irmãos".
Organizações civis pedem a revisão de todo o processo de negociação e maior transparência por parte dos governos envolvidos.
Inaugurada em 1984, a Usina Hidrelétrica de Itaipu é administrada binacionalmente e é responsável por cerca de 10% da energia consumida no Brasil e 90% da energia utilizada no Paraguai. A renegociação do Anexo C, prevista para 2023, tem sido alvo de intensos debates políticos e econômicos em ambos os países.
A possível espionagem brasileira sobre o Paraguai não apenas ameaça as relações bilaterais, mas também lança luz sobre uma prática comum, porém raramente admitida, no mundo da diplomacia: a vigilância sobre aliados em nome de interesses estratégicos.
Especialistas em relações internacionais alertam que, se comprovada, a ação pode comprometer futuros acordos regionais e enfraquecer a imagem do Brasil como parceiro confiável na América do Sul.
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